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Uma parte do sonho é já realidade! No dia em que a caravana parou para um merecido descanso, Hélder Rodrigues faz o balanço da primeira metade do Dakar. E não esconde que se sente com forças e condições para continuar a fazer história na mais mítica aventura do todo-o-terreno mundial!
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Balanço da corrida depois de sete dias e 4660 quilómetros?
| Hélder Rodrigues:Não podia ser mais positivo. Quando me estreei no Dakar fui nono da geral e o melhor rookie. Logo no ano seguinte fui 5º ainda com pouca experiência. Chegar agora a meio da corrida com o terceiro lugar é tudo o que sempre sonhei e acima de tudo um objectivo a que me tenho dedicado intensivamente no último ano. Sempre assumi que o meu objectivo para este Dakar era um lugar no pódio. Consegui lá chegar logo nas primeiras etapas e isso dá-me muita confiança. É bom sentir que estou em luta directa com os nomes mais sonantes do todo-o-terreno mundial e saber também que me tenho conseguido manter entre os primeiros. Este ano é óbvio o meu avanço, pois nunca antes tinha chegado tão longe logo nos primeiros dias. Isso significa alguma coisa! | |
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O físico e a mecânica correspondem? | H.R.:Sem dúvida, vejo agora que valeu a pena toda a preparação que fiz até aqui. Quer em termos de treino, quer em termos de experiência competitiva – fiz várias corridas do Mundial para amadurecer e sempre com o Dakar no horizonte. Também já tenho muita experiência com a Yamaha WR 450, cuja preparação e a fiabilidade estão a corresponder – apesar de saber que disponho de menos potência em relação aos meus rivais das KTM oficiais... | |
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Principais dificuldades? | H.R.:As dificuldades que esperava para este Dakar sem grandes surpresas. Talvez o pó seja a maior e claro andar na frente da corrida sem cometer erros e riscos desnecessários. Esta gestão é o mais complicado. Alem disso, o lado psicológico e humano tem um grande peso sobretudo para os pilotos como eu, que já passaram por um grave acidente. É claro que no momento de subir aos comandos da moto e de arrancar não tenho medo, mas nestes dias tenho pensado muito no meu amigo Luca Manca, que sofreu um grave acidente neste Dakar e que ainda não está livre de perigo. É uma grande carga psicológica e não posso ficar simplesmente indiferente ao sofrimento dos outros. Também me entristeceu a saída do Paulo Gonçalves nas circunstâncias em que ocorreu (queda), pois sentia um grande orgulho em ver nos lugares cimeiros muitos nomes portugueses. O que só prova que temos em Portugal excelentes pilotos, que somos competitivos e mesmo sem a experiência dos nossos adversários conseguimos lutar com eles de igual para igual. | |
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O novo percurso agrada? | H.R.: Apesar das novidades, o tipo de pisos não varia muito em relação ao ano passado. Na verdade prefiro de longe as saudosas etapas de areia que fiz na Mauritânia, pois dou-me muito bem nas dunas e aqui há pouca areia. Mas tenho conseguido ser rápido e é isso que importa. | |
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450 versus 690? | H.R.: Com as limitações que foram impostas pelo regulamento às motos de maior cilindrada, a minha Yamaha WR 450 estaria em teoria à altura de fazer frente às KTM 690 oficiais. Mas na prática isso não acontece e estou em clara desvantagem em termos de potência e velocidade. É uma guerra desigual, mas tenho aproveitado muito bem as zonas mais técnicas para compensar esta diferença de andamento. | |
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E a partir daqui? | H.R.: Há ainda muitos quilómetros para rolar até regressarmos a Buenos Aires e tudo ainda pode acontecer. Vou continuar a lutar com todas as minhas forças para manter o meu terceiro lugar, sei que é possível e é por esse objectivo que me vou bater todos os dias. Mas, ao mesmo tempo que sei que tenho um lugar no pódio ao meu alcance, também conheço a história do Dakar o suficiente para saber que muitas vezes as decisões dos lugares de topo só se definem mesmo nos últimos quilómetros. Neste momento, as diferenças que nos separam no topo da classificação do Dakar ainda não são suficientemente expressivas para qualquer um de nós pensar que tem um lugar garantido. Serenamente, vou continuar a lutar etapa a etapa pelo meu objectivo. | |
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