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Ricardo Leal dos Santos no dia da consagração

Lisboa Dakar - Final

Dos pilotos portugueses que participaram no Euromilhões Lisboa Dakar, Ricardo Leal dos Santos terá sido aquele que mais impressionou. Primeiro pela sua capacidade de suportar e superar a Solo todas as dificuldades do mais duro rali do mundo e depois por ter demonstrado possuir um andamento extremamente vivo, ao nível dos mais consagrados pilotos nacionais, para um piloto com reduzida experiência nos automóveis. Tal como outros pilotos de moto, o campeão dos Quad termina o Dakar demonstrando que tem carreira assegurada nos 4x4.

Pelos resultados obtidos, não admira que o balanço da participação de Ricardo Leal dos Santos nesta edição do Euromilhões Lisboa-Dakar 2006 seja bastante positiva. “Antes de mais, esta foi a primeira vez que participei ao volante de um verdadeiro carro de competição. Senti-me sempre à vontade ao longo da prova e, com o passar das etapas, a minha habituação à pilotagem e maior experiência para poder aproveitar todas as potencialidades do Mitsubishi Pajero DiD permitiu-me imprimir um rimo mais consentâneo com o que sou capaz de fazer”, começou por referir.

Penalizações injustas

As penalizações que sofreu também acabaram por colocar Ricardo Leal dos Santos umas posições à geral abaixo do que poderia ter alcançado. “Houve, primeiro, o caso das penalizações por não passar nos WPO na oitava etapa, segunda a organização, sendo que duas delas são injustas pois tratou-se da má inserção do código no GPS. Depois, os inúmeros “atascanços” dos quais tive que me desenvencilhar sozinho, perdendo qualquer coisa como seis horas, devido também ao facto do meu carro não possuir bloqueio de diferencial. Por isso, se retirarmos essas 10 horas do meu tempo final daria uma posição cerca de 10/12 lugares acima”, recorda.


Para além disso, Ricardo Leal dos Santos destaca o facto do Mitsubishi Pajero DiD ter chegado ao final sem grandes “mazelas”, aguentando as adversidades que foi encontrando pela frente, bem como beneficiando de uma condução sempre adaptada ao cenário e momento adequado. “Até Dakar, ou seja em cerca de nove mil quilómetros, mudei dois jogos de pastilhas de travões, uma embraiagem no dia de descanso (por precaução), tive um furo e utilizei apenas oito pneus e mudei os dois braços da suspensão. Para além disso, cheguei ao final com os quatro cantos do carro amolgados… mas por obra e graça de vários azares! Primeiro, foi quando me esqueci de travar o carro depois de ter sido forçado a parar. Seguiu-se um toque quando o Nuno Inocêncio me ajudava a sair de um buraco, uma pancada no veículo dos médicos quando tentava transpor uma duna e, finalmente, quando o Thierry Magnaldi me atingiu por detrás quando me tentava ultrapassar!”.

Histórias e “estórias” desta sua participação a solo são mais que muitas. Ricardo Leal dos Santos recorda apenas algumas delas. “Desde pancadas de adversários, camiões em sentido contrário a 120 km/h, pilotos a pé a correrem nas dunas para se colocarem à frente do meu carro, ajudas mútuas com outros pilotos, nomeadamente, portugueses, barulhos estranhos no interior do carro, um macaco hidráulico partido quando arranquei sem dar conta… enfim! São tantos os episódios que só com o passar dos dias é que me será possível lembrar-me de todos”.

Com o passar das etapas e das dificuldades, Ricardo Leal dos Santos conseguiu aumentar o ritmo e foi terminando sempre bem classificado, tendo em conta ser o único piloto a solo ainda em prova e, mais importante, apenas o sétimo a conseguir tal feito na última década! “Nos últimos dias comecei a andar mais depressa e a fazer muitas ultrapassagens. Sei que posso andar depressa e provei isso mesmo nesta edição. Para além disso, andar a solo é mais do que uma aventura. Este resultado muito positivo deixa-me confiante para um futuro próximo, quando tiver um carro ainda mais competitivo. Nessa altura, acredito plenamente ser capaz de terminar muito melhor classificado, provavelmente entre os 10 primeiros”, confessa.


Resumo das quinze etapas

Um de apenas três pilotos que optaram por se aventurar a solo neste Euromilhões Lisboa-Dakar 2006 e o único a conseguir terminar, Ricardo Leal dos Santos andou regularmente entre os 60 primeiros e conseguiu, nas derradeiras etapas, dar um salto qualitativo na classificação geral, juntando ao “forcing” final o facto de ser apenas o sétimo piloto a solo a terminar a prova na última década.

Aqui fica um resumo das suas prestações ao longo das 15 etapas da prova, começando pelas etapas nacionais, disputadas no Alentejo e Algarve.

“Nas etapas portuguesas, fiquei com um vidro partido e a protecção das ópticas depois de fazer 15 quilómetros atrás de um concorrente que não me deixava passar (sábado) e o perfil da especial de domingo colocou-me alguns problemas para conseguir desenrolar o road book no momento certo!”, começou por explicar.

Na chegada a África (3ª etapa), um compressor avariado e uma buzina silenciada foi o que de pior aconteceu ao piloto/gestor, acusando, ainda assim, algum desgaste físico devido à dureza dos pisos. “A organização quis, claramente, eliminar concorrentes logo de início, tal a dureza dos pisos de Marrocos. Senti algumas dores nas costas, problema que entretanto não continuou”.

A passagem para a Mauritânia decorreu sem grandes problemas – “nas primeiras dunas, tive que parar várias vezes para encher e esvaziar os pneus, tarefa que feita a dois não penaliza o cronómetro, mas realizada por um piloto a solo requer mais tempo… e saúde!” –, até que nas duas últimas etapas antes do dia de descanso começaram as “estórias” típicas de quem aceita o desafio de participar na mais dura e mítica prova de Todo-o-Terreno do Mundo.

“Entre Zouerat a Atar (7ª etapa), saí da pista para evitar concorrentes presos na areia e acabei por ficar também preso quando tive que parar para não acertar no carro… de Luís Costa. No stress de sair dali o mais depressa possível, esqueci-me de recolher um dos macacos hidráulicos e arranquei-o! Depois, aterrei num tufo gigante de ‘herbe à chameaux’, onde fiquei com o carro preso, antes da noite cair e dar por mim numa verdadeira ‘plantação’ de carros e camiões, com muitos concorrentes parados nas dunas. Uma vez mais, tive que tomar rapidamente uma decisão e optei por fugir aos trilhos e atacar uma duna paralela, onde se encontrava um carro médico. O problema é que o carro estava colocado paralelamente à duna e quando tentei passar entre esta e o jipe, o meu carro descaiu e embati no jipe dos médicos! Ninguém se magoou, foi apenas um ‘encostar’, mas lá tive eu que sair de novo e voltar a cavar para poder continuar. Com a ajuda dos médicos, consegui tirar o meu carro e quando já estava cá fora a apanhar o material utilizado, olho para o meu carro… e vejo-o a andar sozinho! Não tinha travado o Mitsubishi e ainda corri para me tentar atirar para o interior, mas com medo de levar com outro concorrente em cima, no topo de uma duna e de noite, deixei-o ir e vi-o a parar… contra o jipe dos médicos, mais uma vez!”

Ainda assim, Ricardo Leal dos Santos apresentou-se à partida para a oitava etapa, ao longo da qual teve mais algumas dores de cabeça: “Na etapa seguinte, a temperatura do motor começou a aumentar e o fumo que saia do carro não era bom prenúncio, mas, felizmente, era apenas um tubo da água que se tinha roto. Mais tarde voltei a apanhar um susto quando uma pancada metálica, seca e forte, persistia na traseira do carro. Aumentou tanto que tive de parar para perceber de que se tratava até que descobri que era a pistola da pressão de ar que estava solta!”.

Uma vez chegado a meio da prova, ao dia de descanso na capital da Mauritânia, Nouakchott, Ricardo Leal dos Santos era 78º da geral, sendo o oitavo melhor representante nacional. Números que a segunda e última semana de prova viria a encarregar de transformar, ainda que o reatar da competição tenha sido difícil. “Demorei 15 horas para concluir a nona etapa deste Euromilhões Lisboa-Dakar 2006, que ligou Nouakchott a Kiffa, a mais longa etapa da prova e considerada por todos como a mais difícil, foram 874 quilómetros, dos quais 599 contra o cronómetro. Cheguei de madrugada, pelas 4h00 depois de vários atascansos e de ver um piloto espanhol, a pé, colocar-se à minha frente numa duna para não passar!”, recordou.

Na etapa seguinte, beneficiando de partir mais à frente, o piloto português conseguiu imprimir um ritmo mais forte, mas mesmo assim não evitou mais um episódio caricato quando foi abalroado por um concorrente. “Devido aos problemas que teve na etapa anterior, Thierry Magnaldi atrasou-se muito e partiu dos últimos lugares. Com a pressa de ganhar terreno e tempo, a determinado momento, surgiu no meu retrovisor de prego a fundo. Mantive o meu percurso até que ouvi no meu habitáculo o som do ‘sentinel’ (buzina que todos possuímos para avisar quem nos antecede), mas antes que pudesse desviar-me levei uma pancada por trás, uma espécie de chega para lá de Magnaldi!”.

Sempre a subir na classificação geral (era já 47ª), foi preciso esperar pela parte final da prova para que pudesse ter, pela menos uma vez, uma etapa mais ou menos tranquila. O “milagre” aconteceu na 12ª especial, entre Bamako (Mali) e Labé (Guiné). “Pude quase sempre andar ao meu ritmo e, de facto, os resultados estão à vista. Terminei em 30º e acho que é esta a minha posição relativa para a restante caravana, embora compreenda que nas etapas de dunas, o facto de estar sozinho seja justificação para baixar alguns lugares na classificação. Nesta etapa tive de novo de fazer algumas ultrapassagens, mas elas aconteceram quase todas na primeira metade do dia. Depois tive de fazer uma paragem porque o vidro da frente se estava a soltar e tive de colocar uns bocados de ‘tape’ para substituir as borrachas. No final da etapa, fui ‘tapado’ pelos dois Kamaz. Eles vinham bastante depressa, mas eu estava com um andamento superior, só que o pó que eles levantavam criava uma parede intransponível”, explicou.

Na penúltima etapa, entre Tambacounda e Dakar, ao longo de 634 quilómetros, tudo correu bem a Ricardo Leal dos Santos. “De início, ultrapassei alguns dos concorrentes que deixei passar no dia anterior, naquela zona mais trializante da prova. Deixei passar o Pedro Gameiro, mas depois acabei por o passar, o mesmo acontecendo com o Kamaz, que tantas dores de cabeça me dera no dia anterior”, explicou. Sentindo-se bem, decidiu aumentar o andamento e ganhar algumas posições, quer na etapa como na prova. “Tenho um bom carro, que já afinei melhor a nível de suspensão, e esta era uma etapa que conhecia bem do ano passado. Hoje deu-me muito gozo vir depressa… mas apanhei dois sustos quando tive pela frente, uma primeira vez, um camião pejado de pessoas, e uma segunda vez, quando uma pickup, com cerca de 40 pessoas na caixa, se atravessou à minha frente”.

A2 Comunicação, 2006-01-15
 
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